12 de janeiro de 2018

Cotidiano

Era manhã de uma terça-feira. “Abre a janela, Maria!” - grita Manoel, com um sorriso na voz, enquanto deixa na porta a baguete para o café da manhã dos filhos de dona Maria. Ela levanta, escova os dentes, espia o quarto dos filhos, curiosa se algum já havia pulado para fora do colchão, mas então lembra: hj é feriado!
Hoje é dia de ser feliz, dia de sair, não importa fazer o que. É dia de agarrar um filho pelo braço enquanto ouve histórias de amigas sobre como seus maridos se portaram à mesa na noite passada.

Era manhã de uma terça-feira. “Abre a janela, Maria!”, - grita Manoel, com um sorriso na voz, enquanto deixa na porta a baguete para o café da manhã dos filhos de dona Maria. Um deles levanta, ouve os passos da mãe no corredor e, rápido e mortal como um gavião, mergulha novamente em sua cama. Ouve cada passo de sua mãe até lá embaixo e começa a traçar um plano: como fazer para não ir hj à escola? Ele pensa, maquina, quase acorda o irmão para pedir auxílio, mas esse o empurra e vira para o lado. Como ele pode estar tão desinteressado sobre um assunto tão sério? Bom, ele pensa que se começar a tossir, sua mãe talvez ouça e pense que ele acordou doente. “Pegou friagem”, ela diria. Cof. Cof. Cof cof. Cof cof cof - PAAA-, voa um travesseiro em sua direção, em plena ameaça a seu manifesto de libertação escolar. Ele olha para seu irmão, ele vira para o lado. - “Como ele consegue?”, se pergunta o menino. Ao que ele percebe o fim! A ameaça! O gatilho para todas as bestas do apocalipse: o despertador irá tocar em 1 minuto. Um minuto!! Vê se tem febre, se joga da cama, verifica por ossos quebrados: nada. Cinco, quatro, três, dois, um... ??... - “Nada? Ele não tocou? Minha mãe não veio me chamar?” E então ele atesta a existência do céu.


Era manhã de uma terça-feira. “Abre a janela, Maria!” - grita Manoel, com um sorriso na voz, enquanto deixa na porta a baguete para o café da manhã dos filhos de Maria, enquanto um deles vira para o lado e dorme.

Movimentos

Estava tudo colorido, pela primeira vez. Ela recuperava a alma. Calma! Você ainda não viu flores. Ou viu? Dê três passos. Pisou numa delas. Sua cara está tão engraçada. Mas você não identifica ainda características do rosto. Meu riso é sem som, como as batidas do meu coração, já que estou cego para a bateria, amor. O seu ou vc: qual me afaga mais? Não saber causa e efeito é tão ruim. Pegar sua mão, sentir o mundo: o que é causa? O que é efeito? Sei que esses assuntos te cansam e sorri agora lembrando da sua cara extremamente entediada enquanto eu, embriagado, amor, tento te explicar qual a estrela mais próxima de teus olhos e o pq do teu sono ser o buraco negro da minha noite.

10 de janeiro de 2018

Vida

Eu ria com ela, ela ria de todos os meus tropeços. Eu já tropeçava de propósito, para termos do que lembrar enquanto revivia cada um de seus sorrisos. Por vezes, haviam alguns tristes e, finalmente, eles se cessaram...
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 Nada ali era engraçado: aparelhos, fios, sons, silêncios com grandes tensões. Você não podia falar, apenas seu coração em cada apito eletrônico. Que bom, sua mão ainda está aqui, ela me esquenta. Lá fora é verão que não esquenta, andou roubando as estações?
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 Juro que vi vc piscar, mas não entendo o que queria: era um sinal? Chamado para essa sua brincadeira? Na segunda semana, eu acatei: café, almoço, janta... cama. O que será que ela está pensando agora? Será que ela ainda pensa em...
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Alta, quarta semana. Folhas caem lá fora, eu as rego de emoção: vc levantou!!
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Eu posso te ajudar em tudo, são coisas que eu conheço: como andar, como falar, um abraço. Esse é o mais difícil: sou apoio ou afago?
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Vc dá seu primeiro passo. Seus pais urram, aplaudem. Sua primeira palavra é: espera. Eu olho para trás, tropeço na maca, vc ri.
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Eu esperei.
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Débora - Eu aceito!