Caneta? Caneta? Ficais leve. Não pese nesse momento em que tanto necessito de ti. Que o peso da minha dor não interfira em sua agilidade nem transborde em sua tinta, pois a escrita deve estar mais clara que o borrão em meu peito. Caneta? Caneta? Sejais o alterego do vazio em meu coração, converse com ela, caneta, e prenda-a em cada curva de tua tinta. Caneta? Caneta? Tu quase se move sozinha agora, caneta. Mas vem chegando o final desse papel em sua vida, como chegou ao final o meu na dela.
Uma cova para um morto. Uma cova para um morto. Uma cova. Um morto. Uma. Um.
O passeio dos mortos ocorre de dia, horário em que os vivos estão cegos demais para poderem se olhar. Quando se está morto, se têm tempo, se nota. A primeira coisa que se nota, é a pressa dos vivos. Todos têm algum lugar para estar, mas não conseguem estar em lugar nenhum. Eles não pertencem. Nós mortos? Pertencemos ao cemitério, não a tua lembrança. Pois só fico guardado nas recordações do que tu fez, não nas omissões. Sou um alívio na consciência. Torno-me inspiração, mas não fui. Eu cuspo na vida. Mas cuspo ao meio dia, quando os vivos estão cegos demais para poderem se olhar.
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