26 de abril de 2021

Concerto

Uma criança adivinharia o que havia em cima do piano:

Vingança

Servida para dois

De hábitos diferentes

Trocamos os papéis de vítima


X

Desce leve

E vem de encontro

Como um mapa do tesouro e seu X

O que encontrar abaixo do arco-íris

Sendo cego de paladar?

O êxtase do vidro de encontro à boca

Carne de encontro à areia

E ver tudo tornar ao pó

De tanta excitação não sei se parto vidro ou dente

Sapatos, camisa polo, perfume

Adornando sua dança da morte

Ao banheiro? Estou embriagado demais para te levar

Te vejo, polo aquático

Por tudo que está em jogo

Você nada em seu próprio vômito

Seus olhos vomitam junto

Duas rolhas prestes a saltar 

Colheita de uma safra que aguardei por anos

Não se preocupe, me acostumei ao amargo

Ao repulsivo

Ao segredo que há entre

Seus olhos e um copo transparente

Fui teu anjo da morte

Selo com um beijo teus espumantes lábios

Teus agonizantes gemidos são dueto à minha última composição

Cruzas o inferno aplaudido por teu pianista, assassino e maestro






5 de abril de 2021

Rosa

 Quando você vive mais eu que sua vida

Só patrões querem zumbi

Eu quero abraçar e gritar que somos o mesmo

Olhe o mundo e depois me conte

Assim como olho e conto de você

Quando não revela o que aconteceu entre Capitu e Bentinho, com uma só pena se escreveu milhões de livros

E se o que importa é o que fica

O que eu deixo é amor

Pois quando enfrento sou uma horda 

Formada por meus eus, pais, amigos, rivais

Cansei de aceitar minhas próprias emboscadas

Quero partir como uma rosa 

Não para sangrar, mas lembrar os espinhos que envolvem a beleza e sua fragilidade

O ego tem o mesmo material e a utilidade que um prato

E é preciso jejuar para perceber nossa verdadeira fome

3 de abril de 2021

Ansiedade

 Sinto medo da escuridão

Vou me confundir com o mundo
Abrir minhas vísceras
Em campos banhados em sangue
Irmãos dando adeus numa guerra
Estarei eu e eu só
Olho em frente e não amo, é inimigo
Como dar as mãos a algo como as sombras?
Como encarar o amanhã
Tendo passado a noite pelo Vale da morte?
Fede a futuro
Num presente assético
Quem sou eu quando fecho os olhos?
Quem serei ao abrir?
Mergulho, com medo de me afogar,
Grito
Invado
Preencho
Transbordo
Líquido e arrasto a alma de multidões
E observo do olho do furacão
Eles perguntando se venta lá fora