28 de dezembro de 2017

Presente à diáspora entre dois anos

Ela foi o fim dos meus adjetivos (fiu fiu),
início do meu questionamento:
será que meu pretérito teria sido perfeito?
O único sujeito das minhas orações fui eu no templo de seus braços.
Você definiu bem nosso plural:
Nossos nós, nossa voz e a inveja é d'eles.
Também gosto do meu singular, é o que deixa eu ter olhos só para ela.
Lembro de um dia em que sem saber ela me ensinou a contar silabas, pois precisei fraciona-las ou faltaria ar durante meus suspiros.
Lembro que meu mundo renascia a cada bom dia e ela recriava todos os substantivos.
Foram tantas palavras trocadas que juntando daria um livro. Bilingue, pois também falávamos amor.


21 de dezembro de 2017

Pesadelo sombrio

Descobri tudo, tomei uma decisão, essa vc não pode tomar também sozinho
E assim eu ficaria, por todo o resto desse caminho
Resto da vida. Quanto dura uma vida? A sua não muito
Chega de raiva contida, cantiga... Contigo?? Fortuito
De maneira egocêntrica me regozijo do som de cada um de meus passos que não ouço
A chave debaixo do tapete aparece, sua subida levanta pó e o voo de meu desejo assassino, torço
O pó na narina e a raiva de 40 ladrão,
A lá, os din da sua carteira sumindo, seria abordagem padrão
Mas o valor que quero não paga o cartão postal daonde
Seu corpo egoísta vai boiar, selfie no fundo do Aqueronte
Você não está ainda em casa, rasgo todas suas roupas, eliminando cada uma de tuas cores
O único pertence seu que deixo é sua coroa, rei, ela é de flores
Ouço o barulho do motor do seu carro, me distraio, nas tuas louça quase caio
Lembro-te me balançando na cadeirinha aos 16, eu sonhando aos 70 ainda tar te balançando
Fiquei tão quieta assim só numa festa surpresa, mas lá você tinha outro motivo pra estar chorando
Vc notou algo de estranho, me viu, droga, hora de correr
Sei que hora agora é essa, mas aquela lembrança não deixa essa hora rimar
A lâmina da faca reflexiva, eu não, e amo isso
Adoro o pavor em seu rosto no contraste com meu sorriso
Um grito! Acordo, 36 graus, 20 é a temperatura do quarto, melhor apagar o pavio
Essa vela, quente, me fez viajar longe. Mas você, frio, ainda tão perto... Pesadelo sombrio

14 de dezembro de 2017

Mortes

Caneta? Caneta? Ficais leve. Não pese nesse momento em que tanto necessito de ti. Que o peso da minha dor não interfira em sua agilidade nem transborde em sua tinta, pois a escrita deve estar mais clara que o borrão em meu peito. Caneta? Caneta? Sejais o alterego do vazio em meu coração, converse com ela, caneta, e prenda-a em cada curva de tua tinta. Caneta? Caneta? Tu quase se move sozinha agora, caneta. Mas vem chegando o final desse papel em sua vida, como chegou ao final o meu na dela.

Uma cova para um morto. Uma cova para um morto. Uma cova. Um morto. Uma. Um.
O passeio dos mortos ocorre de dia, horário em que os vivos estão cegos demais para poderem se olhar. Quando se está morto, se têm tempo, se nota. A primeira coisa que se nota, é a pressa dos vivos. Todos têm algum lugar para estar, mas não conseguem estar em lugar nenhum. Eles não pertencem. Nós mortos? Pertencemos ao cemitério, não a tua lembrança. Pois só fico guardado nas recordações do que tu fez, não nas omissões. Sou um alívio na consciência. Torno-me inspiração, mas não fui. Eu cuspo na vida. Mas cuspo ao meio dia, quando os vivos estão cegos demais para poderem se olhar.