27 de dezembro de 2019

Prédio metalinguístico

Como eu vou explicar poesia? Imagina com um beijo selar o tempo
Em uma foto só pra enxergar na mente
Um orgasmo pulsando a janela da alma
O toque quem molda o desnecessário


Num jogo onde correm palavras não tentem entender meus pontos
Me passa a mente, pontuemos juntos
Ao que te remetem esses assuntos?
Eu escrevo já pensando a música e segredo em cada letra uma nota musical


Pode fugir da métrica, do assunto, da língua, só voa e me faz viajar
Não quero mar, cansei do sal
Eu quero sol, me leve às estrelas
Forjar sentidos sendo sem sentimentos? Por dentro os sons fundem-se aos ecos
E ouça a gritaria. Em que dia estamos? Escrevemos sempre do passado

Pílulas

Fogo na bomba pra combustão
Ou combustão espontânea previsível
A noite não enxergo
De dia não me enxergo
Nunca quis tanto ser cego
Se eu sou o que você diz ou o que eu faço, não passo de um prego. Incrédulo velo em silêncio o castelo do ego que criaram no novelo de reputação que me deram
Casto, ilibado não me basto. Um cavalo só, se consola à coloração do pasto.
Parto e cavalgo a fronteira do dia, ser linha de frente me costura memórias da infância, brinco de morto após crescido, ainda assim me divirto
Reflete comigo, pois assim você me reflete: é meu abrigo
Guerra química, pílulas, inimigo invisível, sou a teoria do caos
Sou a água no cais
Gerada por erupção vulcânica
Minha força está anêmica
Prefiro me abraçar pois a chuva hoje é dentro
A vida anda assim tão cênica? O cânone rachou igual nossa cerâmica
As pontes desabaram ou vocês que ficaram sem gasolina?
Me dirijo a vocês, sou meu diretor, atuo estar bem, que ator eu sou!

24 de dezembro de 2019

Judas privilegiado ruminando seu próprio umbigo

Dei a outra face, Jesus
Mesmo certo, tomei cicuta outra vez
O destino do corpo não importa, estive pensando
Mas isso fica pra outra hora...

Judas, Ato dos Apóstolos, era pós-Apocaliptica da Besta Tinder - não me lembro em quantos versículos vc dizia querer nosso bem - você querendo um beijo me dá uma nostalgia dos de Don Corleone - te dou
E mesmo rico quis me encaixar à venda, a venda sobre meus olhos foram palavras de renda, aprenda, antes de vir a tempestade já montei a tenda…
Apanhe da vida antes que você apanhe das pessoas na sua vida (a vida é sua)
Jesuzinho mimado, moleque assustado, talarico arrombado (a vida é suar)
Pega o atestado, é tão ruim o trago, foi culpa do trigo? (cuidado se te pegam no pico)
E nem foi a primeira, entalou na garganta sua segunda, mas tentou a terceira? (sem você no conto, não haveria um final feliz, mas talvez veríamos felizes o João aah...Maria)

6 de dezembro de 2019

Lenços e seus papéis

Uma conversa entre pessoas distantes
Uma olhava a outra sem jeito
Não sabiam o que dizer
Respira
Respira
Respira

Toque
Um olhar
Encontro
Um oi
Um aceno, tímido
Do bolso, tira um lenço e segura-o na mão
As primeiras palavras irrompem com força em meio ao silêncio:
- Para que este lenço?
Palavras que de tão fortes cortam o lenço, o Espaço, o Tempo...
Respira
Respira

- Tempo! Dê tempo!
Tocam as mãos
Se olham, mas agora se atravessam. Como se naquele olhar pudessem alcançar o mais profundo do universo
E sonhavam galáxias, universos, multi-versos, medos...
Respira
Voltaram à Terra. Olham para o lado e veem uma macieira. Colhem uma. Não precisam de mais provas da existência...
Aspira

Percebem o escurecer
Os olhos perdem-se em um bréu denso que bloqueia a passagem do som
O vacuo os engole
E choram
O Éden não respira mais