6 de dezembro de 2020

Morra antes de morrer. Não há outra chance depois - C.S. Lewis

"Nenhum homem é uma ilha, todo em si; todo homem é uma parte do continente, uma parte da terra; se um torrão de terra é levado pelo mar, a Europa é diminuída, tanto se fosse um promontório, como também se fosse uma casa de teus amigos ou a tua própria; a morte de todo homem me diminui, porque sou parte na humanidade; e então nunca pergunte por quem os sinos dobram; eles dobram por ti."

- John Donne 



O abismo me secando, cercando por cerca de... hmm... cercas.... sou de sangue e arames

Tecido biológico e inóspito, meus anticorpos levando seu título ao pé da letra

A pele que habitamos muda de 7 em 7 anos

A mente que dirijo, de 7 em 7 dias

Vontade de morrer vinha de 7 em 7 horas

Eu tinha 7 maneiras, não sabia qual escolhia:

Asfixia por gás ou carvão, intoxicação por remédios, saltar de prédios, pegar intencionalmente Covid, provocar alguém armado até levar um tiro, brincar a sério de forca ou me jogar nos trilhos do trem

Haviam 7 maneiras, mas disso acham melhor eu não falar

Não é incentivo pra quem já pensa. Melhor incentivo é se conversar, entender a doença. 

Não tem a ver com pensar positivo ou nenhuma crença

Não que eu queira criar alguma desavença, agradeço as bênça

Acho que falar sobre isso e mostrar que sobrevivi

É mais vantajoso que uma conversa póstuma sobre como morri

Eu seria uma luz apagada se eu não tivesse encontrado o interruptor naquelas noites de apagão

Teria sido uma merda ter seguido meu cérebro ou coração

Mas sei que eles são bons, ao mesmo tempo não

E isso é ser mais verdadeiro que jurar ter o padrão

Cidadão de bem. Ou cidadãos de bens (vocês sabem quem)

Me afastei de tudo, todos, me tornei uma pessoa amarga

Havia perdido minha marca, estava pronto pra barca mas

Minha morte também não me quis, Gil...


Azazel - Você têm coragem pra se matar? - perguntou, com uma ênfase quase ofensiva no pronome.

Imagino - disse o demônio - que esta seja uma das suas tentativas frustradas de fazer graça.


Talvez a sorte foi a morte não reconhecer minha alma pós cortes

Talvez a sua bússola, como eu, perdeu seu norte

Minha direção era sempre ao velho-oeste

Sem conhecer meus gatilhos, não tinha controle, era marionete do destino e seus testes

Jogava minha sorte aos dados e me achava bem. Mas não percebia as subidas e descidas, tipo a Secom trabalhando com gráficos e o Brasil de refém


Azazel - O homem do passado a que me refiro só se parecia um pouco com você. Ninguém mais no mundo possui essa sua capacidade de escrever, escrever, escrever sem colocar nenhuma ideia no papel.  

Bem - continuou - Mire-se naquele espelho, se é que não se importa de ser cruelmente lembrado de sua aparência


Eu olhava e me perguntava: o que me tornei?

Não me alimentava, sem banhos, sem motivação

Cada apoio que eu recebia só me fazia sentir mais ódio de mim

Único lugar suportável era em meus sonhos

Bem, chega. Me sinto renovado. Me sinto mudado. Aliás, me sinto mutado, como se fosse agora uma pessoa diferente, mais forte, saída de uma mutação na Terra-X (obrigado, Stan Lee)

Quando pego minha caneta não é pra gerar pena, mas sim pra demonstrar a outras pessoas que talvez estejam passando pelo mesmo problema que: não estamos sozinhos. Prefiro deixar a pena de lado para assim podermos bater asas e voar juntos.  


"É preciso realmente acreditar em escrever. Eu acredito que vale a pena escrever, como vale a pena viver. No meu caso específico, como a arte de escrever não é apenas um ato intelectivo ou intelectual, chamem vocês como quiserem, é um ato de vida, é um ato visceral. Eu não sei como é que eu viveria sem escrever. Aliás, só vale viver escrevendo. Se eu não estiver escrevendo, a minha vida vai muito mal."

- João Antônio 

Ps: Azazel é um demônio de 2 centímetros habitante de algumas histórias de Isaac Asimov. 











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