"Nenhum homem é uma ilha, todo em si; todo homem é uma parte do continente, uma parte da terra; se um torrão de terra é levado pelo mar, a Europa é diminuída, tanto se fosse um promontório, como também se fosse uma casa de teus amigos ou a tua própria; a morte de todo homem me diminui, porque sou parte na humanidade; e então nunca pergunte por quem os sinos dobram; eles dobram por ti."
- John Donne
O abismo me secando, cercando por cerca de... hmm... cercas.... sou de sangue e arames
Tecido biológico e inóspito, meus anticorpos levando seu título ao pé da letra
A pele que habitamos muda de 7 em 7 anos
A mente que dirijo, de 7 em 7 dias
Vontade de morrer vinha de 7 em 7 horas
Eu tinha 7 maneiras, não sabia qual escolhia:
Asfixia por gás ou carvão, intoxicação por remédios, saltar de prédios, pegar intencionalmente Covid, provocar alguém armado até levar um tiro, brincar a sério de forca ou me jogar nos trilhos do trem
Haviam 7 maneiras, mas disso acham melhor eu não falar
Não é incentivo pra quem já pensa. Melhor incentivo é se conversar, entender a doença.
Não tem a ver com pensar positivo ou nenhuma crença
Não que eu queira criar alguma desavença, agradeço as bênça
Acho que falar sobre isso e mostrar que sobrevivi
É mais vantajoso que uma conversa póstuma sobre como morri
Eu seria uma luz apagada se eu não tivesse encontrado o interruptor naquelas noites de apagão
Teria sido uma merda ter seguido meu cérebro ou coração
Mas sei que eles são bons, ao mesmo tempo não
E isso é ser mais verdadeiro que jurar ter o padrão
Cidadão de bem. Ou cidadãos de bens (vocês sabem quem)
Me afastei de tudo, todos, me tornei uma pessoa amarga
Havia perdido minha marca, estava pronto pra barca mas
Minha morte também não me quis, Gil...
Azazel - Você têm coragem pra se matar? - perguntou, com uma ênfase quase ofensiva no pronome.
Imagino - disse o demônio - que esta seja uma das suas tentativas frustradas de fazer graça.
Talvez a sorte foi a morte não reconhecer minha alma pós cortes
Talvez a sua bússola, como eu, perdeu seu norte
Minha direção era sempre ao velho-oeste
Sem conhecer meus gatilhos, não tinha controle, era marionete do destino e seus testes
Jogava minha sorte aos dados e me achava bem. Mas não percebia as subidas e descidas, tipo a Secom trabalhando com gráficos e o Brasil de refém
Azazel - O homem do passado a que me refiro só se parecia um pouco com você. Ninguém mais no mundo possui essa sua capacidade de escrever, escrever, escrever sem colocar nenhuma ideia no papel.
Bem - continuou - Mire-se naquele espelho, se é que não se importa de ser cruelmente lembrado de sua aparência
Eu olhava e me perguntava: o que me tornei?
Não me alimentava, sem banhos, sem motivação
Cada apoio que eu recebia só me fazia sentir mais ódio de mim
Único lugar suportável era em meus sonhos
Bem, chega. Me sinto renovado. Me sinto mudado. Aliás, me sinto mutado, como se fosse agora uma pessoa diferente, mais forte, saída de uma mutação na Terra-X (obrigado, Stan Lee)
Quando pego minha caneta não é pra gerar pena, mas sim pra demonstrar a outras pessoas que talvez estejam passando pelo mesmo problema que: não estamos sozinhos. Prefiro deixar a pena de lado para assim podermos bater asas e voar juntos.
"É preciso realmente acreditar em escrever. Eu acredito que vale a pena escrever, como vale a pena viver. No meu caso específico, como a arte de escrever não é apenas um ato intelectivo ou intelectual, chamem vocês como quiserem, é um ato de vida, é um ato visceral. Eu não sei como é que eu viveria sem escrever. Aliás, só vale viver escrevendo. Se eu não estiver escrevendo, a minha vida vai muito mal."
- João Antônio
Ps: Azazel é um demônio de 2 centímetros habitante de algumas histórias de Isaac Asimov.
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