9 de fevereiro de 2019

Vícios

Fumando um cigarro num quarto fechado, admiro a fumaça e sua dança, acessível e contemporânea. Ela dança e me mantém em torpor na neblina. Assisto todos - passivo, coloco o quarto na penumbra - os movimentos do objeto que agora se torna penumbra do que já foi.
Seu objetivo é queimar? Não. Foi imbuído de sentido a um ato sem sentido, enquanto sinto (talvez muito) ela ensaiar em meu corpo.
Dragão sem fogo, embebido em fumaça. Apago a brasa, brisa passa, transporta seus restos mortais. A mortalidade do cigarro se completa em mim. Sou o fim do ciclo dele, ele será meu fim.
Já não tusso mais em sua presença. Engulo fácil de ângulos que se tornariam difíceis até para o ar. Não penso em parar pq simplesmente não penso. Mas torço pra que esse filtro tenso afague como um lenço as mazelas superficiais.
E transforme tudo em sombras, desejo já não enxergar. Estou cego lendo tantas marcas, ainda que analfabeto.
Mas canso do desabafo abafado desse tal de cigarro. Lembranças ficam do pigarro, sinto saudades, procuro pela flor de Hiroshima; onde será que foi parar meu maço?

8 de fevereiro de 2019

Música de guerra

Guardo palavras em baús, preciosas, não compete
A quem carrega dicionários e rasga tudo em confete
Terror das letras, técnico, lanço ideias em teia
Mente ilícita, sangrando a luz de uma lua cheia
Puro, no doce do meu amargor, me afogo
Murros e coices líricos, na natureza logo
Tipo login, no sapatin, chego e dou entrada
À sua saída, corpo e janela estão fechadas
Sua confiança, em meu tsunami se mostra fachada
Sua panela, de tanta pressão na rua, ladra
Não escuto, o barulho da minha obra cobre
Mestre de obras! Roda peão, antes que vc sobre
Poeta das ruas, letras com peso de concreto
Mãos calejadas da caneta, saio ileso dos escombros de seus versos Lego
Seus caracteres se reviram no túmulo, folha revolve
Ela só têm química comigo, letras tão ácidas que a folha dissolve
E chove em poesias. Coloca a língua pra fora
Seu domínio da língua à míngua, boroca, bebe meu foco agora
Sou foco e sufoco a falsa concorrência como sulfato, cospe
Voem com prudência, Ícaros, do meu espaço abato Cosbys
Sou um gigante e meu talento arranha-céus
Julgando deuses, sento-os no trono dos réus

Vou confabulando com as estrelas e anjos em enoquiano
Deuses cochichando? Silêncio! Deidades tão tipo: tá tirano
Mostrar pela minha lente, sigo, frente, rei insurgente
Tirem minha lente, já vi que ceis não aguenta os mil graus da patente

7 de fevereiro de 2019

Luta diária

Sentiu o clinch, abraçar oponente ou ringue
Vingue, num assalto clichê
Oponente ou você, querida
No auto de sua forma, a vida
Camareira, frente das guerras
Extinguindo lençóis,
É no freático que os conhecerei de verdade
Lei do mais forte, sorte, deteriorar
Fluxo.
Mas aqui, no ringue, os presentes na caixa:
Luxo
Esporte ausente, sangue quente
Vida se rende rente à porte,
De sua chance de tomar o cinturão da...
Nem ouse chamar
Escureçam o lado do corner
Pois sabe-se lá
O que acontece do outro lado
Só sei que de brim trajado pra quem conseguia ver
Cegueira branca, o alfaiate acostumou você
A muita luz, visualizou pouca definição
Inferno são os outros, explica em poucas esse mundo cão
Quem tem mais a perder nessa luta
Treme mais, vender ela não assusta,
Faça luta justa. Custa? Cash ou susta
Talvez nem haja um amanhã
Talvez nem houve uma manhã
Uma
Aquela em que acordei pé frio e apostei na Morte

6 de fevereiro de 2019

Onipotência


Entra, mas não solta a maçaneta
Esteja preparado para o retorno
É seu lugar
Talvez nem haja outro
A liberdade de sair do casulo está só na borboleta
Você não sacrifica nem sua calçada
Estéril
Varrer pensamentos com vassoura feita de fios de cabelo que crescem como germes em estufa
Alguns negativos, íons, vomitam energia
Expande como se fosse Cesar
O macaco
Pensemos em macacos:
Simples, selva, água
Comendo queijo... brie?
Sinto vergonha, mas vocês não
Vocês são visionários, veem o futuro
Mas o futuro não te vê
Ao menos com bons olhos
Não estou dizendo que a revolução das máquinas vai dominar a todos, não vivo dessas utopias
As próximas revoluções tecnológicas se darão de... dois em dois anos?
A tecnologia, uaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaau
É de ponta
Vocês se cutucam como se as tivessem inventado
Mas, surprise: vocês foram inventados
Robôs, mecânicos, mercadoria
Você é, não tem, fonte de renda
Falo sobre massa
Aquela que foi usada para formar as últimas bolachas do pacote
Do qual eu nem conheço a marca
Nem o logo
Sei o cheiro: suor, cansaço, crime
A receita para o creme da morte
Enquanto isso, atravesso o oceano. Não. Kramers racistas sobem Kremlins em um terreno sci-field
Loucura, né?
Terra dos sonhos de quem nunca acordou de verdade
Can i talk in english? No
Vou traduzir o que eu disse: não
Todos na TV são gremlins
A chuva derrete seus rostos
Bonecos de cera
Homúnculos. Pergunte algo sobre o mundo real
Sabem dados, nomes, artigos, modos
Mas pergunte sobre realidade (que não virtual)
Meus textos analógicos não abrem na sua tela
Nossa palavra não é escutada, estamos presos ao mosquiteiro
E já não batemos em seu para-brisa, Thors
(o deus nórdico, manjam? Aquele loiro, de olho azul? Ele pune ciclistas!)

5 de fevereiro de 2019

22 de janeiro

Escrevi tão forte seu nome na memória
Que sobrescrevi todos os pensamentos
Só você sente a primavera
O sabor que ela tem
Invernos e verões, teus armários
Outono cai e só não apago a tua luz
Em marcha, voa ano, acende a vela
E lhe dou, e lhe dei, e me dá...
Parabéns!
Junto a um sorridente arrepio
Vítimas, olhares que não usam black tie
Despindo palavras sem destilar sentimentos
Para tomarmos puro, sem filtro ou doce,
Nosso amor


4 de fevereiro de 2019

Colheita

Meu destino é vento
Eu? Peso cem quilos
Sei o caminho
Vi a enchurrada nos noticiários
A brisa não refresca
Me lembra o destino
Quero uma eólica (qual a que estoca vento)
Usinas cheias, bolsos cheios
Construir ideias concretas que
Não estejam petrificadas
A morte, cláusula pétrea
Nasceu já em expediente
Não me preocupa o anoitecer
Se as luzes forem artificiais, deixem
Andorinhas,
Ainda perdidas
Sem saber estações
Se encontrando em linhas
Manifesto
A vontade de domar os grilhões
Com valor para milhões
Mas de rima tão pobre
Sobre a terra, pedras apenas constroem mais muros
Esquecer valores para dar valor
A pequenos
Momentos
Mas mais importante
Cultivar para que sejam instantâneos
E se for para unir todos no mais sagrado terreiro,
Seja
Moldo
Sou filho da terra
Pó das estrelas
Maus ventos jamais me levarão a terreno desconhecido

Recesso

Perdido na alça do mundo
Doido pra cair
Precipício, fundo, um vício
Tentando atingir a casca do mundo
Ouvindo a trilha, vendo fumaça 
Sangue frio, noites quentes
Coração e cabeça em guerra
Dois soldados exaustos sem confiança na artilharia. Bandeira branca é esquecer
Por um momento uma bandeira pausa a guerra
Exaustão, pânico
Onde corro está tudo ocupado
Desfalco o fronte de cadáveres, valsa de agonia, thriller
Não comemoro o fim da guerra, comemoro o fim!
É que no primeiro grito eu já perdi a luta
Vi que sem pólvora a minha voz não chega
E a montanha cansou de conversa
O eco tem voz de solidão
E mente, aah mente, 
Não ecoa 
O drama teve berço nas palavras
E cada nota dança pra ouvidos surdos
Desafinados, corriam por notícias que
Cada vez mais previam sonoplastia bélica
As bombas soavam como fogos
Para quem esteve surdo ao toque das sensações
Eu vejo
Mas aqui
Não sinto