Fumando um cigarro num quarto fechado, admiro a fumaça e sua dança, acessível e contemporânea. Ela dança e me mantém em torpor na neblina. Assisto todos - passivo, coloco o quarto na penumbra - os movimentos do objeto que agora se torna penumbra do que já foi.
Seu objetivo é queimar? Não. Foi imbuído de sentido a um ato sem sentido, enquanto sinto (talvez muito) ela ensaiar em meu corpo.
Dragão sem fogo, embebido em fumaça. Apago a brasa, brisa passa, transporta seus restos mortais. A mortalidade do cigarro se completa em mim. Sou o fim do ciclo dele, ele será meu fim.
Já não tusso mais em sua presença. Engulo fácil de ângulos que se tornariam difíceis até para o ar. Não penso em parar pq simplesmente não penso. Mas torço pra que esse filtro tenso afague como um lenço as mazelas superficiais.
E transforme tudo em sombras, desejo já não enxergar. Estou cego lendo tantas marcas, ainda que analfabeto.
Mas canso do desabafo abafado desse tal de cigarro. Lembranças ficam do pigarro, sinto saudades, procuro pela flor de Hiroshima; onde será que foi parar meu maço?
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