24 de maio de 2018

Soberba

Eu nasci em berço de ouro, São Paulo
Megalópole avançada, vamos nos desligar, sempre falo
Montar nosso próprio país, expulsar nordestino
Raça de voto errado, penca de filho, dente caindo
Já meus filhos, todos falando inglês
Sem dominar bem português, fala alemão! Sem síndrome de vira lata
Que empaca o ensino médio com espanhol, ele joga criquet, não futebol
Minhas camisas são de luxo, CBF-Brazil, cama king size
Soar de panelas puxo, mais um rivotril pra aguentar essa fase
Que noite linda de lua, jantar a noite de velas
Mais exclusivo que isso, Huck, privatiza ela
Pois eu sou dona da terra, não, Sou Dono da Terra
Meus antepassados juntaram tudo com armas, ainda lucro com elas
O ar tá seco em São Paulo, falta combustível pro avião
Eu não saio daqui, sou médico, é lucro pra profissão
Eu tenho ouro, tolo, e não tolero
Distribuição de renda? Pros trajes: tango, valsa e bolero
Eu hoje com minha fé, irmãos, me sinto mais capacitado
Sou filho do dono, isenção, bar-balada, pai: dai-me fé no Estado
Nem Sherlock tinha uma pista, enxame de lobista.
Tem ateliê? Artista de capa de revista
Minha referência não vem daqui, não dou vexame
E a reverência mando voando pra Miami
Sou Juíz, reto e correto, população corcunda, Notre Dame
Toga bem mais cara que os seus exame
Senhora terceira vez que reclamou do valor da pensão
Doei um mês do meu auxílio terno, olha meu coração
Investimento pra empresa? Sim, o País tem de incentivar
Mas esse socialismo de Bolsa família? Os bonito de papo pro ar
Fazendo filho pra acrescer no valor, e olha seu estado
Faz igual eu, bota os filho em Harvard, depois indica pra uma vaga no Senado

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